domingo, 30 de dezembro de 2007

"The Incredible Journey"



Há quem diga que parece que foi ontem. A mim parece-me um passado longínquo, parece-me algo que aconteceu há muito tempo atrás, uma história que li num livro e que sei de cor. É uma história que conto "over and over again", com a leveza de quem conta uma história que não é sua, porque é tão surreal hoje quanto foi então, que tudo tenha realmente acontecido. É uma história cujo final reinvento, tirando novas conclusões de cada vez que o faço, como se lesse um mesmo livro em diferentes fases da vida e encontrasse algo novo a cada nova leitura.

Lembra-me aquela história dos dois cães e do gato que andavam à procura do caminho de volta para casa, só que no fim, quando o cão mais velho cai no buraco, os companheiros não o conseguem salvar.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

"How to save a life"


Entro e fecho a porta.

Silêncio.

Nunca tivemos este silêncio. Nunca te vi tão cansado.

Porquê?

Finalmente falas, pausadamente, coisas que não compreendo.

O tempo pára, por uma eternidade.

Pânico.

Sei o que estás a dizer e não quero ouvir.

Rejeição.

Calma. A tua. Constante.

Pânico. O meu. Crescente.

A viagem termina.

Ainda incrédula, despeço-me de ti.

Como se nada fosse, volto à realidade, para um dia me arrepender.

"...and I would have stayed up with you all night, had I known how to save a life."

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Desculpa



Gostava mesmo de ti. Gosto mesmo de ti. Se calhar tens razão, se calhar fugi. Não foi consciente, não foi de propósito. Senti-me sufocada, cansada, esgotada e tive de sair, para respirar, para viver, para experimentar e saborear uma existência sem ti. Mas a verdade é que não há existência sem ti, não para mim. Não me foi, não me é possível existir sem saber de ti, mesmo que não estejas mesmo aqui, há uma parte de ti que é minha e há uma parte de mim que será sempre tua.

Queria ter sido melhor, queria ter feito mais, mas não fui, não fiz, não fui capaz. Tu mereces mais e melhor, e eu também. Há coisas que são porque sim, não há mais nada que as explique, e foi porque sim que tudo aconteceu, foi porque sim que, um dia, eu fui para a esquerda e tu para a direita.

Desculpa. Desculpa tudo o que não fui, tudo o que não fiz, tudo o que não tentei.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pequena



Sinto-me pequena. Pequena ao ponto de não ter controlo sobre o meu futuro, sobre o meu presente. Pequena porque não sei onde estou, o que faço, porque o faço. É só porque tem de ser? Serei (seremos todos?) apenas uma "mindless puppet" participante no grande esquema das coisas?

Sinto-me pequena, impotente. Não tenho qualquer tipo de controlo sobre nada. Não sei o que me está a acontecer e sinto que, ainda que soubesse, não conseguiria fazer nada quanto a isso. Quero parar, mas não consigo, não consigo obrigar-me a pensar, a decidir.

Sinto-me pequena, impotente, sozinha. Grito por ajuda, como se tivesse sido enterrada viva, grito, empurro, contorço-me, até o oxigénio se consumir no meu esforço e eu sufocar. Ninguém ouve, ninguém vê, ninguém consegue estender a mão para me tirar daqui.

Nunca fui tão pequena quanto sou hoje, enquanto espectadora da minha própria vida, sentada no meio da plateia, sozinha.

domingo, 25 de novembro de 2007

To the moon and back




Há dias em que nem vale a pena sair da cama. Quanto mais depressa queremos fazer as coisas, mais nos atrasamos; quanto melhor as queremos fazer, menos o conseguimos. Discussões, contratempos, erros... E há mesmo dias em que não valia a pena ter saído da cama para enfrentar tudo isso.

Mas... há dias que são preenchidos por algo mais, dias completos, dias cheios de ti. E nesses dias vale a pena sair da cama, vale a pena enfrentar as discussões, os contratempos, as consequências dos meus erros, as pessoas que não me querem bem. Vale a pena, porque no fim do dia estás tu, e é em ti que posso refugiar-me e descansar. É em ti que me perco e me reencontro. É por ti que me deixo levar, to the moon and back.

sábado, 10 de novembro de 2007

Castelos de areia


Quando é que se deixa de acreditar?

E como é possível deixar de o fazer?

Mesmo quando os factos apontam para tudo o que me assusta, não consigo desistir, não consigo deixar de acreditar naquilo que me tem permitido respirar, não consigo deixar tudo e fugir, quando sempre pensei que, mais tarde ou mais cedo, o faria, como sempre faço com tudo o que me aterroriza.

Desta vez quis ficar, sem saber porquê, mas quis. Quis pegar no monte de areia molhada que ficou depois da rebentação e construir outro castelo, longe do alcance da maré cheia, com torres mais altas, muralhas mais resistentes e alicerces mais seguros. Não, não sei porque fico. Sei apenas que fico sabendo que me vais fazer chorar outra vez, que vou ter de reconstruir o castelo vezes e vezes sem conta e que, um dia, muito provavelmente e, por certo, inevitavelmente, vou fugir. E tu não me vais procurar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

I love Chocolate (porque a Andreia adorou)


Dizer que se ama alguém é fazer uma promessa. Amar alguém implica auto-sacrifício, implica saber perdoar, saber compreender e aceitar, saber dar e receber, implica longevidade. De facto, considero que esta última é a característica mais importante implícita no verbo amar. Quando se ama, ama-se para sempre, mesmo que, seja por que motivo for, o objecto desse sentimento deixe de fazer parte da nossa vida. Dizer que se ama alguém é prometer estar ao lado dessa pessoa para sempre. E, sim, dizem que nada é eterno, mas quando se diz "Amo-te", se não estivermos convictos de que é para sempre, é mentira. Não se ama com prazo de validade, não se vê fim quando alguém nos preenche completamente.

Por mais banalizado que o verbo amar esteja, e nos dias que correm está bastante, dizer "Amo-te" pode ser uma promessa para a pessoa que ouve. E não digo banalizado como quem diz "I love chocolate". Digo banalizado como os "teenagers" (geração da qual eu, infelizmente, faço parte) dizem "Amo-te" no dia em que começam a "andar" (já não se namora, "anda-se") com alguém novo.

Tudo isto para dizer a todas as pessoas a quem disse "Amo-te" (e muito poucas foram no sentido romântico da palavra) que é verdade e que é para sempre.

domingo, 14 de outubro de 2007

Fica



Entra e fecha a porta, deixa o mundo lá fora. Senta-te comigo e abraça-me. Não precisas de dizer nada, preenche-me apenas com a tua presença. Fecha os olhos comigo, aperta-me contra ti e deixa-me levar-te, a perdermo-nos em nós, porque nada mais existe quando estas comigo. Só quero ficar assim, ao teu lado, deixar a força dos teus braços envolver o meu corpo, a ansiedade da tua respiração pairar nos meus ouvidos, a leveza dos meus cabelos roçar a tua cara e a vontade das nossas mãos em encontrarem-se consumar o que não dizemos.

Fica assim comigo, não te vas embora, porque quando estas aqui sinto-me bem, verdadeiramente bem, encontro paz, aquela paz que procurei incessantemente e fui, inesperadamente, encontrar no teu abraço.

Fica, quero-te.

(foto by me @ Tamariz)

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Broken


Dói. Não compreendo, mas dói. Tenho frio e sinto-me cansada.

Ainda falta muito?

Quero descansar... Quero pousar a minha bagagem e sentar-me à beira da estrada para recuperar o fôlego, para pôr uma manta sobre as pernas e beber uma chávena de chá quente, enquanto o resto do mundo passa a correr. E se te viesses sentar comigo e me contasses todas as histórias que me querias ter contado e eu te dissesse todas as coisas que queria ter dito, quando voltasse a pôr a bagagem às costas para seguir este meu caminho sem destino, pesaria muito menos e eu estaria muito mais segura de mim.

Mas não posso parar, não há Tempo, nem posso sentar-me à beira da estrada, não há Espaço. E mesmo que a Natureza me concedesse um milagre do Tempo e do Espaço, nunca te poderias vir sentar comigo e ensinar-me tudo o que te esqueceste de me ensinar antes de te ires embora. E mesmo que me ensinasses tudo, teria sempre de caminhar sem os teus olhos postos em mim.

Não é que não faça sentido sem ti, é que a beleza de cada manhã é corrompida pela tua ausência.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Espera



Fecho os olhos e quero com muita força (como se diz às crianças para fazer) que o tempo páre, que volte para trás, que me dê para sempre uma daquelas noites de Natal cheias de pessoas, alturas em que tinha tudo.

Mas o tempo não para, não volta atrás. Segundo dizem, a vida continua. Tenho a nítida sensação de que a minha parou. Saí do comboio e sentei-me na estação a ver a vida passar, à espera do comboio certo. Em vez de apanhar um comboio, sonho, enquanto ele passa, com as coisas que encontraria lá dentro, com o destino que queria que ele tivesse ... e o comboio passa e eu continuo sentada na estação, atenta à voz que anuncia a chegada do próximo comboio e o seu destino, para o sonhar enquanto ele não vem e, depois, enquanto ele passa, sem nunca entrar nele.

Uso como desculpa a ignorância, o medo, para a minha impassividade, para a minha inércia. Mas é mentira, eu não sou ignorante, nem tenho medo. A verdade é que não sei porque não me consigo levantar e apanhar de novo o comboio.

sábado, 29 de setembro de 2007

A terrível verdade



O príncipe encantado não existe, é um mito. Aquele homem que aparece montado num cavalo branco e nos tira da torre onde nos fechamos à chave pela mágoa é um mentiroso.

Estou absolutamente convicta de que se formos à procura da Branca de Neve, da Rapunzel e da Bela Adormecida, vamos encontrar a Branca de Neve a viver outra vez com os Sete Anões, a Rapunzel divorciada porque rapou o cabelo e ele não reparou e a Bela Adormecida a chorar ao pé das fadas madrinhas porque o príncipe Filipe chegou outra vez a casa com batom no colarinho.

Minhas amigas, quanto mais depressa aceitarmos este facto, menos desilusões teremos: os homens são todos iguais. O homem que repara no que temos vestido (e que levámos horas a escolher para ele), o homem que sabe compreender os nossos silêncios e o nosso olhar cansado, o homem que nos vê a nós e só a nós, apesar da loira boazona que passa ao lado, o homem que nos abraça porque nos quer abraçar e não porque nos quer foder, o homem que não nos desilude, o homem que vem sempre salvar-nos não existe. Não existe, percebem? O príncipe encantado não existe, são todos sapos. Convençam-se disso. Eu já me convenci.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Memórias de infância


Sou pequenina (dizem que nunca fui pequenina, que sempre fui grande para a idade, mas sou pequenina) e tenho de esticar o bracinho para agarrar o dedo do meu avô e de mexer depressa as minhas perninhas curtas (curtas ao pé das dele, porque dizem que sempre as tive compridas) para acompanhar os seus passos largos. Com a sua paciência interminável de avô, leva-me, como faz todos os dias, ao parque infantil para me empurrar o baloiço durante tanto tempo quanto a minha inconsciênca de criança quiser. Inconsciência porque não percebo que lhe doem os joelhos e as costas por estar em pé e o braço por me empurrar. Sou criança e sou egoísta e digo-lhe "Mais, avô! Mais!", e apesar das dores ele continua, porque ao fim do dia vou sentar-me no seu colo, pôr-lhe os braços à volta do pescoço e dizer "Adoro-te avô." e porque no dia seguinte vou fazer na escola um desenho para lhe dar, que ele vai guardar na gaveta onde guarda todas as coisas que lhe dou, desprovidas de qualquer valor material. Mas mesmo que não fizesse nada disso, ele continuaria a empurrar o baloiço, em pé, ao sol, suportaria as dores e o calor porque o seu coração se enchia de alegria a cada gargalhada minha.

A saudade significa que um dia estivemos perto, e a felicidade também se encontra em memórias, que podemos reviver vezes sem conta, recordando ou inventando um novo detalhe de cada vez que um desses momentos perdidos algures no tempo nos vêm à memória e nos preenchem o coração.

domingo, 16 de setembro de 2007



Estou no limbo, à espera de uma luz, de um sinal que me guie, porque não consigo ver. Não me consigo mexer, não sei onde estou, tenho frio e quero ir para casa. Foi quando fugi a correr sem olhar para trás que me perdi assim, de ti, do mundo, de mim. E agora que não sei onde estou grito por ti, mas tu já não me consegues ouvir. Não me consegues ouvir, não porque não me queiras ouvir, mas porque não podes, porque a única pessoa que consegue ouvir os meus gritos sou eu, apenas eu sinto a pele a rasgar, as gotas de sangue a percorrer o meu corpo, a dor interminável de não saber quem sou.

Sentada no chão, com frio e sem ver um palmo à frente do nariz, tenho de ganhar equilíbrio próprio para me levantar e força própria para caminhar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Manhãs



Manhãs cheias de sol, em que os raios de luz entram pela janela e banham o corpo descansado da noite de esperança.

Manhãs em que ao despertar se revive um sonho delicioso que depois se escapa da memória, mas deixa a doce felicidade da ilusão.

Manhãs em que, assim que se liga o rádio, passa aquela música que nos deixa a cantar o dia todo.

Manhãs de sumo de laranja e torradas.

Manhãs de grandes planos e expectativas, de sonhos e ansiedade, de saudade e coração preenchido ao mesmo tempo.

Momentos de felicidade que nos proporcionam as pequenas coisas da vida ...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O nosso mundo



Sim, sonhamos demasiado alto. Vemos e acreditamos em coisas que apenas existem no nosso mundo. Estamos vivos para sonhar, como podemos evitá-lo? E será que devíamos evitar sonhar? Sei que por fantasiar tudo acabo magoada com a realidade, mas não me arrependo de sonhar, faz parte de mim, é quem eu sou.

" Just when she closed her eyes, she saw the world and she fantasised, it was part of her and it was beautiful. "

Tu arrependes-te?

Há algo mais bonito do que o nosso próprio mundo, algo mais real, algo mais nosso? Tudo se desvanece, tudo pode ser-nos tirado, excepto os nossos sonhos, as nossas fantasias, aquele lugar que existe apenas no nosso íntimo e que mais ninguém conhece.

Se pudesse, beijava-te no coração, dava-te um pouco do meu mundo e voávamos os dois...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Ilusão


Se te sonhar, não és real. Mas como posso parar de te sonhar, se te sonho desde que me lembro? Ou será que ainda não te conheci, e o sonhado está ainda por entrar pela janela, sem eu me aperceber, enquanto olho para a porta, à espera que se volte a abrir? Mas como vou saber, se é sempre um sonho?

Tenho a sensação de que, até hoje, nada foi real, foi sempre, sempre e apenas um sonho. Há dias em que acordo num lugar diferente, em que o coração mudou de morada. É nesses dias que se destroem os sonhos, que abro os olhos e vejo tudo tal como é, pequenas amostras de realidade que corrompem tudo o que até então era verdade. E não consigo voltar atrás. Os momentos de doce ilusão caem-me das mãos e desfazem-se em pedaços no chão, como um copo de cristal da loiça que está na familia há anos, irreparável e insubstituível. É então que fujo e entro de novo no limbo, onde fico sentada a olhar para a porta, talvez agora com um olho na porta e outro na janela, não vá o príncipe encantado entrar por lá...

(Fotografia em Vila Nova de Milfontes, de novo, por mim)

sábado, 21 de julho de 2007

Eu



Sinto-me presa, neste lugar cheio de sol e cheiro a mar, sinto-me melancólica. Sei que não quero estar aqui, nem voltar atrás, por isso assumo que só possa seguir em frente. Mas para onde? E como? Não tenho para onde ir, não quero que me levem daqui, mas também não quero ficar. Quero voar, soltar-me das cordas que me prendem os pulsos e os tornozelos e ser livre, voar para um lugar com príncipes encantados, livros, nuvens de algodão doce, sol e mar. Quero paz.

Não sei onde estou. Não compreendo esta melancolia, esta tristeza, esta quase obrigação de respirar. Não me conheço ou reconheço, ouço uma voz que não é a minha; quem é esta pessoa, afinal? Será que morri e nasceu outro eu dentro de mim? E que toda esta melancolia, esta tristeza, este peso que o oxigénio me provoca no peito, esta impassividade de viver, não passa do luto do eu por mim? Será que me perdi e encontrei alguém, não melhor, mas capacitada para viver e ser quem sou ou quem tenho de ser? Alguém cheia de sonhos e ideias, de maturidade e garra, de coragem e vida? E será que, se for dormir e te encontrar e a tua serenidade tomar conta de mim, como sempre fazia, vou acordar e ver um novo lugar, aqui mesmo, com os pés bem assentes na terra, cheio de príncipes encantados, livros, nuvens de algodão doce, sol e mar? Talvez seja apenas um sonho, mas acredito que o luto por quem já não sou vai dar lugar ao que sempre quis ser.
(Pequeno pormenor: a fotografia foi tirada por mim, em Porto Côvo)

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Sopro de um sonho


Já não acredito em ti. Já nem sequer acredito na tua existência. Se alguma vez exististe foi dentro de mim, enquanto objecto da minha criação. A pessoa para quem olho agora não és tu. És tu para ti e para os outros. Para mim não. Mas a culpa é minha. Menti-me e enganei-me e ceguei-me, tudo por vontade própria, porque era mais fácil assim. Afinal, para quê abrir os olhos e viver a preto e branco se os posso fechar e viver em colorido? É certo que de olhos fechados vou tropeçando pelo caminho, mas para quem tem essência de sonhador é assim mesmo. E é melhor assim. Os sonhos, esses ninguém os pode levar. Já o resto... a pouco e pouco levaste tudo, não ficou quase nada. Deixaste apenas o último sopro do sonho daquilo que foi. Porque foi isso mesmo que foi, um sonho. Agora acordo devagar, quero lembrar-me do que sonhei e não sou capaz. Vêm-me rasgos de momentos à memória. Momentos que vivi a sonhar.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Ausência



Hoje sei o significado de ausência.

Ausência não é não estar presente, ausência não é estar distante, porque quando não se está presente pode-se estar lá, e quando se está distante pode-se estar perto, de outras formas. Os estados físicos pouco importam. Estamos tão distantes quanto nos sentimos e a presença traduz-se em estados de espírito.

Ausência é quando estavas aqui e o teu coração noutro lugar. Quando eu falava e tu não ouvias. Quando sentia o teu corpo, mas não a tua alma. E a tua ausência pesou. E ausentei-me também. Passámos então a ser dois corpos que respiravam o mesmo ar e trocavam afectos mecânicos. E os teus afectos mecânicos destruíam-me por dentro. E corrompemo-nos um ao outro. E rasguei a tua pele, tu rasgaste a minha. E arrancaste-me o coração, eu arranquei o teu. E a frieza dominou tudo. E destruímo-nos.

Agora que não estas presente, sinto-te perto, tão perto... mas agora é tarde.

sábado, 5 de maio de 2007

O teu adeus



Se fechar os olhos, ainda consigo sentir o calor da tua pele, a textura do teu cabelo, o teu cheiro. E ainda consigo sentir o sabor das tuas lágrimas quando te beijei e dissemos adeus.

Nunca pensei que fosse possível encontrar alguém tão como eu quanto tu consegues ser; alguém que sabe exactamente aquilo que quero dizer e não digo, que adivinha aquelas palavras que me morrem entre o coração e a boca; alguém capaz de caminhar a meu lado, com os olhos postos no mesmo horizonte; alguém capaz de me compreender, completamente; alguém que me enche o coração de calor, apenas com a voz.

Não tem um nome aquilo que és na minha vida, não precisa de ter e não faria sentido se tivesse. É suficiente para mim a forma como me olhas, não preciso de ter mais certeza nenhuma para além da que me das quando estas presente. Sim, encho-me de dúvidas quando não estas e não sei se amar-te aos bocadinhos é suficiente, mas vivi o hoje podendo amar-te e sei que disso não me arrependo. Não sei quando chegará o amanhã em que vou poder voltar a fazê-lo, se é que vai chegar, porque tudo é incerto (são cada vez menos as certezas, e de que servem elas se um dia chegarei à conclusão de que estava errada?), mas foi bom escapar de tudo o resto, contigo, hoje.

Um adeus significa que um dia se esteve perto e é isso que interessa, é isso que fica na memória para reviver vezes sem conta.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

O fim


É quando as coisas partem que sentimos a sua falta. A ideia do "nunca mais" assola-nos a alma e vêm-nos à memória todos os momentos que deixamos passar em que não dissemos ou fizemos o que queríamos ter dito ou feito e apercebemo-nos que se tornou tarde demais. Os maus momentos apagam-se, como se nunca tivessem existido (porque quando as coisas chegam ao fim nunca nos lembramos do que tinham de mau), e invadem-nos o espírito aqueles em que fomos felizes e aos quais não soubemos dar o devido valor na devida altura.

Porquê, perguntamo-nos, porquê? Porque nada é eterno, porque tudo há-de chegar ao fim. E o fim, chegue ele como chegar, há-de ser sempre doloroso e imprevisível.

O mundo acaba, desistimos, morremos por dentro. E, depois da chuva passar, renascemos. Das cinzas nasce um novo mundo, construído à luz dos erros que cometemos no outro; um novo mundo que também há-de chegar ao fim para dar lugar a outro, por necessidade de mudança.

É quando acaba a água que temos sede, é quando não chove que nos apercebemos da falta que a chuva nos faz e foi só quando partiste que compreendi o quanto ainda precisava de ti.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Chuva


Lá fora chove. Cá dentro também começa a chover.

"It's so very cold outside... like the way I'm feeling inside...", diz a canção. Não podia estar mais certo... Tudo neste momento me parece correcto; a música, a chuva, o frio, a solidão da casa, a mancha no tapete, os lenços molhados em cima da mesa, o meu estado de espírito.

Não há nada no mundo que esteja mais certo, e tão errado ao mesmo tempo, do que este momento. Não há nada que faça mais sentido, sem, no entanto, fazer sentido algum, do que isto.

Mas que momento é este, tão contraditório? Que momento pode transmitir tanta calma e tanta revolta? Tanto amor e tanto ódio? Tanta alegria e tanta tristeza? Tantas dúvidas no meio de uma certeza? Que certeza? Certeza de que vencerei...

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Não, hoje não...



Hoje é um daqueles dias em que a parte de mim que é lutadora e corajosa quer saltar cá para fora, qual leoa de garras afiadas, e correr atrás do que quero, ou do que penso que quero. Mas não, hoje não vou fazer isso. Hoje vou deixar a parte de mim que é frágil e triste dominar a situação. Qual é o objectivo de travar estas batalhas sozinha?Para quê chorar, suar, sangrar quando tudo é tão incerto? Não, hoje não. Hoje vou adormecer com a esperança de que ao despertar a batalha terá terminado e a paz terá sido restabelecida. Hoje vou esperar que lutes tu por mim, que chores, que sues, que sangres, como eu... E bem sei que amanhã estará tudo na mesma, mas não, hoje não sou capaz.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Crescer



Há uma rapariga que me olha do outro lado do espelho, uma rapariga que eu pensava conhecer. Quanto mais olho para ela, mais tenho a certeza que, à medida que o tempo passou, me esqueci de quem ela é. Esforço-me para a relembrar, quem ela é e aquilo em que acredita, mas cada vez mais sinto que a perdi e que já não conheço aquela rapariga que me olha fixamente do outro lado do espelho.
E é quando uma lágrima rebola pela face dela e a sinto a vir do fundo do meu peito, onde a enterrei, que sei que nunca mais vou saber quem ela é ou quem ela foi. Então invade-me a certeza de que a perdi no meio da tempestade e nunca mais a vou recuperar.
Viro-lhe as costas e guardo para sempre na memória aquela rapariga presa no espelho que um dia me ensinou a viver, a ter força e a sonhar.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Espelho da minha alma



Que a ousadia de te amar me destrua por dentro, se fores meu por um dia, como se sempre tivesses sido. Que o fantasma de quem sou na tua presença me persiga dia e noite, se puder viver esta paixão. Que viva duas existências distintas (uma cheia de ti e outra cheia de nada), que seja duas pessoas diferentes (uma para ti e outra para o mundo), se ao menos hoje vivermos como se mais nada importasse. Que a saudade me rompa o peito e que morram nos meus olhos todas as coisas que não posso viver contigo. Que tudo deixe de fazer sentido. Que a angústia, a incerteza e a impotência me consumam. Se tiver o teu abraço, o teu aroma, o teu calor, o teu olhar no coração...nada disso importa. Ter-te, ainda que ilusoria e esporadicamente, sentir o teu olhar penetrar-me e desvendar tudo aquilo que sou, vale cada uma das vezes que me vais magoar, espelho da minha alma, paixão avassaladora.