sexta-feira, 20 de abril de 2007

Chuva


Lá fora chove. Cá dentro também começa a chover.

"It's so very cold outside... like the way I'm feeling inside...", diz a canção. Não podia estar mais certo... Tudo neste momento me parece correcto; a música, a chuva, o frio, a solidão da casa, a mancha no tapete, os lenços molhados em cima da mesa, o meu estado de espírito.

Não há nada no mundo que esteja mais certo, e tão errado ao mesmo tempo, do que este momento. Não há nada que faça mais sentido, sem, no entanto, fazer sentido algum, do que isto.

Mas que momento é este, tão contraditório? Que momento pode transmitir tanta calma e tanta revolta? Tanto amor e tanto ódio? Tanta alegria e tanta tristeza? Tantas dúvidas no meio de uma certeza? Que certeza? Certeza de que vencerei...

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Não, hoje não...



Hoje é um daqueles dias em que a parte de mim que é lutadora e corajosa quer saltar cá para fora, qual leoa de garras afiadas, e correr atrás do que quero, ou do que penso que quero. Mas não, hoje não vou fazer isso. Hoje vou deixar a parte de mim que é frágil e triste dominar a situação. Qual é o objectivo de travar estas batalhas sozinha?Para quê chorar, suar, sangrar quando tudo é tão incerto? Não, hoje não. Hoje vou adormecer com a esperança de que ao despertar a batalha terá terminado e a paz terá sido restabelecida. Hoje vou esperar que lutes tu por mim, que chores, que sues, que sangres, como eu... E bem sei que amanhã estará tudo na mesma, mas não, hoje não sou capaz.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Crescer



Há uma rapariga que me olha do outro lado do espelho, uma rapariga que eu pensava conhecer. Quanto mais olho para ela, mais tenho a certeza que, à medida que o tempo passou, me esqueci de quem ela é. Esforço-me para a relembrar, quem ela é e aquilo em que acredita, mas cada vez mais sinto que a perdi e que já não conheço aquela rapariga que me olha fixamente do outro lado do espelho.
E é quando uma lágrima rebola pela face dela e a sinto a vir do fundo do meu peito, onde a enterrei, que sei que nunca mais vou saber quem ela é ou quem ela foi. Então invade-me a certeza de que a perdi no meio da tempestade e nunca mais a vou recuperar.
Viro-lhe as costas e guardo para sempre na memória aquela rapariga presa no espelho que um dia me ensinou a viver, a ter força e a sonhar.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Espelho da minha alma



Que a ousadia de te amar me destrua por dentro, se fores meu por um dia, como se sempre tivesses sido. Que o fantasma de quem sou na tua presença me persiga dia e noite, se puder viver esta paixão. Que viva duas existências distintas (uma cheia de ti e outra cheia de nada), que seja duas pessoas diferentes (uma para ti e outra para o mundo), se ao menos hoje vivermos como se mais nada importasse. Que a saudade me rompa o peito e que morram nos meus olhos todas as coisas que não posso viver contigo. Que tudo deixe de fazer sentido. Que a angústia, a incerteza e a impotência me consumam. Se tiver o teu abraço, o teu aroma, o teu calor, o teu olhar no coração...nada disso importa. Ter-te, ainda que ilusoria e esporadicamente, sentir o teu olhar penetrar-me e desvendar tudo aquilo que sou, vale cada uma das vezes que me vais magoar, espelho da minha alma, paixão avassaladora.