sábado, 21 de julho de 2007

Eu



Sinto-me presa, neste lugar cheio de sol e cheiro a mar, sinto-me melancólica. Sei que não quero estar aqui, nem voltar atrás, por isso assumo que só possa seguir em frente. Mas para onde? E como? Não tenho para onde ir, não quero que me levem daqui, mas também não quero ficar. Quero voar, soltar-me das cordas que me prendem os pulsos e os tornozelos e ser livre, voar para um lugar com príncipes encantados, livros, nuvens de algodão doce, sol e mar. Quero paz.

Não sei onde estou. Não compreendo esta melancolia, esta tristeza, esta quase obrigação de respirar. Não me conheço ou reconheço, ouço uma voz que não é a minha; quem é esta pessoa, afinal? Será que morri e nasceu outro eu dentro de mim? E que toda esta melancolia, esta tristeza, este peso que o oxigénio me provoca no peito, esta impassividade de viver, não passa do luto do eu por mim? Será que me perdi e encontrei alguém, não melhor, mas capacitada para viver e ser quem sou ou quem tenho de ser? Alguém cheia de sonhos e ideias, de maturidade e garra, de coragem e vida? E será que, se for dormir e te encontrar e a tua serenidade tomar conta de mim, como sempre fazia, vou acordar e ver um novo lugar, aqui mesmo, com os pés bem assentes na terra, cheio de príncipes encantados, livros, nuvens de algodão doce, sol e mar? Talvez seja apenas um sonho, mas acredito que o luto por quem já não sou vai dar lugar ao que sempre quis ser.
(Pequeno pormenor: a fotografia foi tirada por mim, em Porto Côvo)