domingo, 2 de novembro de 2008

Devaneios


O sentimento de não pertencer a lugar nenhum cresce de dia para dia. Cresce e acumula-se. Com esse sentimento vem o cansaço, a frustração, a tristeza, a solidão. Tentar e falhar, tentar e falhar, atingir o limite. Comprimir-me o mais que posso para caber num lugar, qualquer lugar, e não conseguir. Esconder-me então dentro de mim, cada vez mais dentro de mim, e tudo o resto tornar-se estranho. Querer fugir, sem ter como, sem saber para onde, e continuar a refugiar-me dentro de mim, cada vez mais dentro de mim. Mas quanto mais me escondo no mundo que me "protege", mais longe fico dos lugares onde tento pertencer, mais longe fico de ti.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Saudade

Não costumo olhar pela janela do meu quarto, mas quando olho lá está a tua casa. Tão perto e, no entanto, tão longe. Olho pela janela, penso em ti e não consigo evitar a onda de nostalgia que me invade. Como é que estas coisas acontecem? Como é que alguém deixa de fazer parte das nossas vidas?
De certeza que ainda te lembras, como eu, das tardes em que passávamos horas a conversar, em que falávamos de tudo, das coisas mais íntimas às coisas mais idiotas. Sempre foi assim contigo, sempre soube que podia dizer-te fosse o que fosse. Agora já não sei nada. Quanto mais penso nisso, menos consigo compreender como saímos daí e chegámos aqui. Parece algo que se passou noutra vida, há muito, muito tempo... Apetece-me ir até aí e esperar que apareças, sentada à tua porta, só para te perguntar como estás, mas não tenho coragem.
Sempre que fores ao teu quintal olha para a minha janela e pensa que um dia, quando tiver coragem, vou esperar por ti à porta de tua casa para ficarmos os dois a conversar como fazíamos antes.

domingo, 19 de outubro de 2008

Inspiração em Bryan Adams


Vem-me buscar. Leva-me contigo para outro lugar, qualquer lugar que não seja aqui, qualquer lugar onde sejamos só os dois. Não precisas de dizer nada, leva-me contigo apenas. Sentir-te perto de mim é suficiente, ao pé de ti estou em casa, aqui não.

Sabes aqueles sonhos em que o chão nos falha e começamos a cair, mas acordamos logo a seguir? Sinto-me assim, a cair num sonho, a cair sem saber porque não tenho chão debaixo dos pés, a cair sem ter onde me segurar para além de ti, e só páro de cair quando chegas e me olhas e me beijas e me abraças e me amas, quando chegas e me levas para longe, para onde só tu e eu sabemos ir. Só estou acordada quando estás aqui, é a única altura em que vale a pena estar.

"(...) Please forgive me, I know not what I do
Please forgive me, I can't stop loving you (...)"

domingo, 5 de outubro de 2008

Visão


Caminho ao sabor do vento, procurando um lugar familiar. Já esqueci há quanto tempo saltei do comboio, deixando metade da bagagem para trás. Agora caminho no deserto, iludida por miragens... Vejo-te, sinto-te perto, mas são apenas momentos fugazes, tão fugazes que, na loucura da sede e da solidão, não sei se são reais. À noite, no escuro, chamo por ti, mas tu não me ouves, não vens.

Serei invisível? Não consigo fazer-me ver. Tu não me vês, não com olhos de ver, não como eu queria, não como eu te vejo. Quando te vejo não vejo mais nada, não há mais nada, nem mais nada interessa. Vejo-te a ti, só a ti, mas não consigo ver além das tuas barreiras. Por mais que te tente ver, por mais que abra o coração, para me veres, para te deixar entrar, não consigo trepar esse muro. Conforme vou desistindo de tentar, começo a ficar cega e a única coisa que consigo ver quando te vejo é a tua silhueta a fundir-se com a linha do horizonte.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O coração



"O coração tem mais quartos do que uma casa de putas" António Lobo Antunes

O coração é enorme. Vive cá dentro o Skipper, esse cão que era uma pessoa, que já existia lá em casa quando nasci, que me guardava o berço, que tantas vezes deitou a cabeça no meu colo e chorou comigo. Vive cá dentro a avó Lucinda, avó da minha mãe, mãe da minha avó, que me enchia as almofadas de espuma para eu nao me sentar no chão, que me cantava canções que se vão perdendo com o tempo (Oh Malhão Malhão, que vida é a tua?), que brincava comigo às casinhas. Vive cá dentro o avô, que era mais meu pai do que meu avô, que me levava ao café e a andar de baloiço depois da escola, que me ajudava nos trabalhos de casa, que brincava comigo, que me levava ao colo e às cavalitas. Vive cá dentro o pai, que me ligava todos os dias à hora de jantar e falava naquele tom de voz que era só meu, que me vinha buscar aos Domingos, sempre cheio de serenidade e paciência na sua expressão enigmática. E vivem cá dentro todos aqueles que ainda posso visitar sem procurar no coração.

sábado, 16 de agosto de 2008

Uma bolsinha de camurça


Precisava de fugir. Queria esconder-me, em qualquer lugar, longe do que me é familiar, para me encontrar ou para me perder, para conseguir mudar. Não sei se me encontrei ou se me perdi, não sei sequer se consegui mudar o que quer que fosse, sei apenas que encontrei tudo o que procurava, para além de mim mesma. No lugar mais improvável, onde nunca pensei procurar, encontrei paz, encontrei tudo aquilo de que preciso para me sentir bem. Mas não pude ficar. Tudo o que vi e senti tive de guardar numa bolsinha de camurça, igual a uma que tinha quando era pequenina, que a minha mãe me deu e que eu levava para todo o lado, cheia de felicidade, a bolsinha, claro. Agora levo para todo o lado uma bolsinha de camurça imaginária, igual a uma que tive há muito tempo, para a abrir de vez em quando e saber que há um lugar para mim, onde sou eu, onde me sinto bem.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Aprendendo


Às vezes, antes de adormecer, ainda fecho os olhos e imagino que estás aqui. Por momentos, pequenos e preciosos momentos, é como se estivesses mesmo e encho-me de calor, um calor que vem de dentro, do meu centro, do meu coração, não fosse o coração apenas um órgão, do lugar onde te guardo, seja ele onde for.

Aprendi com o tempo (e é tanto o tempo que já passou...) a não estar zangada contigo, a aceitar quem foste e tudo o que fizeste. Ainda há dias em que me zango contigo por não estares presente, mas lembro-me do lugar onde te guardei, dentro do meu ser, e penso que não poderias estar mais perto. Aprendi que não foi culpa tua o que me aconteceu. Foi culpa minha, é culpa minha, ter-me esquecido de quem sou, mas não ser capaz de esquecer quem tu querias que eu fosse, ou quem sabias que eu era.

Ainda tenho muito para aprender e, do lugar onde te guardei, dentro do meu ser, vais acompanhar-me em cada lição e vais ser sempre o meu professor preferido, a seguir ao avô, claro.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Reflexões



Costumava saber muitas coisas. Aliás, costumava pensar que sabia muitas coisas. Agora sei que não sei rigorosamente nada. Saber uma coisa já não é nada mau, pois não?

Ontem disseram-me uma coisa que me fez rir instantaneamente, mas pensar muito depois: "És tão instável que prevês as tuas próprias instabilidades". E sou. Quanto ao prever as minhas instabilidades, faço os possíveis, mas sou bastante instável e, inconscientemente, crio defesas em relação a isso. O que é verdade hoje pode ser mentira amanhã. Vivo de emoção forte em emoção forte, salto da dor profunda para a pura euforia, sem meio termo, não há meio termo. Apercebo-me disto e de como é disfuncional e destrutivo, mas não sei se sou capaz de mudar. Vens de mão dada comigo na mesma?

sábado, 10 de maio de 2008

Tempo


O tempo é uma coisa estranha. Cada dia tem vinte e quatro horas, cada hora tem sessenta minutos, e cada minuto tem sessenta segundos. Logicamente, o tempo nunca se altera, não espera por ninguém e nunca para, não se perde, porque é dono de si próprio, não pertence a ninguém, não se compra nem se vende. O tempo passa, caprichoso, tornando segundos em longos minutos, minutos em fastidiosas horas, horas em agoniantes dias, levando momentos preciosos em meros segundos.

O tempo teima em não passar a partir do momento em que te vais embora, demoram-se os segundos, atrasam-se os minutos, prolongam-se as horas. E goza comigo, instala-se o caos, perco toda a noção lógica de tempo e espero... espero... espero. É o que me resta, esperar. Esperar que o tempo corra até ao instante de voltares, de te ver, de te ter, aqui, ali, em qualquer lugar, não me importa muito. Seja onde for que estivermos os dois, esse lugar é a minha casa e era aí que queria possuir o tempo, torná-lo nosso, fazê-lo parar nesses momentos transcendentes em que somos os dois um só.

domingo, 20 de abril de 2008

Medo, amor e loucura


Quero gritar, correr, libertar-me. Sinto-me presa num lugar, sem saber onde, sem saber porquê, mas preciso de sair, de ver mais, de ser mais do que isto, de aprender a viver. A verdade é que tenho medo, tenho medo do amanhã, tenho medo que seja igual a hoje ou que seja totalmente diferente. Tenho medo de seguir o coração, que já me conduziu tão erradamente, e tenho medo de não o seguir.

O que é mais importante? O amor ou a razão?

O amor é o êxtase, é a força que nos move até à mais alta montanha, até ao meio do oceano, até onde for preciso. Quando o amor acaba, o mundo acaba, e quando o amor renasce, um novo mundo renasce também das cinzas do anterior. "Love lifts us up where we belong, where the eagles fly, on a mountain high." O amor é loucura, e onde há loucura, não há lugar para a razão.

Decidi que não vou ter medo. Vou gritar, correr, libertar-me daquilo que me prende, vou render-me à loucura... E quando o mundo acabar sei que vai sempre, sempre renascer.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Mulheres reais


As ruas de Lisboa foram mais uma vez invadidas pelos cartazes da Triumph, que tem contratado a actriz/modelo Claudia Vieira para as suas mais recentes campanhas. Decerto que muita gente ainda se lembra da campanha da Triumph em que a modelo aparecia com pinturas no corpo. Foi, sem dúvida, uma campanha bastante original.

Na nova campanha, Claudia Vieira aparece nos diferentes cartazes com diferentes modelos de lingerie e é sempre rainha de alguma coisa: "Rainha de Copas", "Rainha da Festa", "Rainha do Lar", "Rainha da Beleza". Para além dos cartazes com a modelo, existe ainda um todo em vermelho com o slogan "Mulheres Reais" e uma coroa branca, símbolo da Triumph. Analisemos, então, este slogan. É, sem dúvida, uma associação inteligente ao símbolo da Triumph e, para além disso, à "Rainha" que invade em cartazes as ruas de Lisboa. Portanto, a lingerie da Triumph é feita para e usada por "Mulheres Reais", mulheres de uma beleza divina. Correcto? Não, errado. A lingerie da Triumph é usada por mulheres de todos os comprimentos e larguras, mulheres com as pernas até ao pescoço e mulheres com pernas só até à cintura, mulheres mais novas e mulheres menos novas, mulheres normais, mulheres reais, muitas mais do que as Reais.

Uma vez que o público-alvo da Triumph é a mulher, deixo uma pequena sugestão: apostem em campanhas que se dirijam realmente à maioria das mulheres, campanhas que reflictam aquilo que a mulher gosta e precisa, em vez de campanhas que mostrem o que ela quer ser porque o homem gosta.

domingo, 13 de abril de 2008

Não me dês a mão


Sinto que acordei de um sonho. Vivia numa história que acaba "happilly ever after", mas despertei, deparei-me com uma realidade onde não existe "happilly ever after", onde a verdade é outra, uma verdade muito feia. Tenho este problema, o de não saber distinguir o que é real do que não é, a verdade da mentira, o certo do errado. Não serão conceitos demasiado abstractos? Não sei, mas as coisas que não sei davam para escrever enciclopédias.

O que sei é que até muito recentemente não tinha qualquer dúvida de que te queria ver, de que te queria dar a mão, e hoje não te quero ver, não quero cair na tentação de te dar a mão, de perder o meu olhar no azul do teu e deixar-me levar por outro sonho.

Não me dês a mão. Quero saber o que é real, e o calor da tua mão já não mo diz.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Ser diferente



Com 12 anos tinha a altura do meu pai e vestia a roupa da minha mãe. E era normal, era a coisa mais normal do mundo para mim. Talvez pela inocência de ser criança, o facto de todas as meninas da minha idade serem mais pequenas que eu era normal. Mas agora percebo porquê, percebo que era diferente e que isso me marcou para sempre. Não o facto de ser diferente, mas sim terem visto que eu era diferente quando eu não o via. Ainda assim, acho que ser diferente é normal. O que não é normal é ser igual, sermos clones uns dos outros.

Agora, não quero que ninguém repare em mim, fico contente por ser apenas mais uma pessoa na sala, invisível. Mas quero sempre ser diferente.

(fotografia @ Sintra - Quinta da Regaleira)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Mau dia



As ondas vêm lamber a areia devagar e quase que sinto o sal arranhar-me as feridas. O céu, de tão escuro, ameaça cair sobre a minha cabeça. A areia está molhada e não corre por entre os meus dedos. Está vento e frio e não tenho onde me abrigar. Hoje até a praia se virou contra mim.

Onde estás?

Vem, vem tu lamber as minhas feridas. Vem esconder-me dentro de ti para que não me caia o céu na cabeça, para me proteger do vento e do frio. Vem dizer-me que é mentira, que está tudo bem. Vem amar-me por uma eternidade.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

In my skin


There I go again, pretending to be someone I'm not. I shouldn't have to be nothing else but ME, but I can't stop! It's just never enough...

Fuck it. Here's the truth:

I'm not a happy person.

I cry, a lot.

I bite my nails and I don't want to stop.

I hate myself, I always have, and I don't expect you to understand.

I do whatever I want.

When you think you've figured it out, love, I'm way ahead.

I'm addicted to romance.

I'm a perverted bitch.

I'll get into you like noone ever did.

That's it, that's who I am. The saddest little girl you've ever met.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Nascer outra vez


Está frio. Chove, ainda. Porquê?

Por esta altura, era suposto ter parado de chover, era suposto ter um céu azul por cima da cabeça e ter o calor do Sol a preencher cada partícula do meu ser. Era suposto estar em paz.

Terei feito tudo ao contrário? Terei feito, para variar, as escolhas erradas? Se assim foi, de que me adianta pensar nisso? O mal já está feito. Resta-me esperar que toda esta chuva me lave a alma, que faça de mim o que eu quero ser, em vez daquilo que sou, e que, então, coberta de orvalho e envolvida no cheiro do amanhecer, renascida de esperança, possa tentar de novo, fazer tudo outra vez e acertar, de uma vez por todas.