Sinto outra vez este impulso de fugir, este impulso tão forte que me consome a alma, que me queima as entranhas. Quero fugir, preciso de sair para algum lado, de partir sem destino, sem pensar se quero ou não regressar, pelo menos para já.
Felizmente, o tempo deu-me algum bom senso e este último diz-me que, na realidade, não posso fugir. Não posso fisicamente fugir, porque ir sem destino é algo que há-de ter determinadas implicações, talvez não muito agradáveis. Para além disso, a vida não tem um botão de pausa em que possa carregar quando me apetece, para ouvir outra melodia durante um pedaço e depois voltar à ensurdecedora desafinação que é a minha vida. A desafinação continua lá, por mais que tente ignorá-la. O que tenho de fazer é aprender a afinar a guitarra para poder tocar a minha melodia, sem o barulho ensurdecedor de fundo que me faz ranger os dentes. Isto é algo que se me apresenta algo problemático... Parece-me que perdi o livro que ensina a afinar a guitarra e não consigo chegar lá sozinha.
Fora as metáforas ridículas, os problemas não desaparecem, por mais que se fuja deles. Até podemos tirar umas férias da vida normal, que quando voltamos eles continuam cá, por vezes até mais agravados devido à falta de atenção que lhes é dada. E tenho até de admitir que, não sei se pela minha condição de mulher ou por simplesmente pertencer à espécie humana, os problemas estão é na minha cabeça. É lá que nascem, que se embrulham uns nos outros, que fermentam e crescem. Fugir não adianta. Há que erguer a cabeça e continuar, um dia de cada vez, tentando desenrolar os problemas uns dos outros e resolver um de cada vez.
Mas o manual de instruções até que dava jeito...