Já não acredito em ti. Já nem sequer acredito na tua existência. Se alguma vez exististe foi dentro de mim, enquanto objecto da minha criação. A pessoa para quem olho agora não és tu. És tu para ti e para os outros. Para mim não. Mas a culpa é minha. Menti-me e enganei-me e ceguei-me, tudo por vontade própria, porque era mais fácil assim. Afinal, para quê abrir os olhos e viver a preto e branco se os posso fechar e viver em colorido? É certo que de olhos fechados vou tropeçando pelo caminho, mas para quem tem essência de sonhador é assim mesmo. E é melhor assim. Os sonhos, esses ninguém os pode levar. Já o resto... a pouco e pouco levaste tudo, não ficou quase nada. Deixaste apenas o último sopro do sonho daquilo que foi. Porque foi isso mesmo que foi, um sonho. Agora acordo devagar, quero lembrar-me do que sonhei e não sou capaz. Vêm-me rasgos de momentos à memória. Momentos que vivi a sonhar.
quinta-feira, 31 de maio de 2007
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Ausência
Hoje sei o significado de ausência.
Ausência não é não estar presente, ausência não é estar distante, porque quando não se está presente pode-se estar lá, e quando se está distante pode-se estar perto, de outras formas. Os estados físicos pouco importam. Estamos tão distantes quanto nos sentimos e a presença traduz-se em estados de espírito.
Ausência é quando estavas aqui e o teu coração noutro lugar. Quando eu falava e tu não ouvias. Quando sentia o teu corpo, mas não a tua alma. E a tua ausência pesou. E ausentei-me também. Passámos então a ser dois corpos que respiravam o mesmo ar e trocavam afectos mecânicos. E os teus afectos mecânicos destruíam-me por dentro. E corrompemo-nos um ao outro. E rasguei a tua pele, tu rasgaste a minha. E arrancaste-me o coração, eu arranquei o teu. E a frieza dominou tudo. E destruímo-nos.
Agora que não estas presente, sinto-te perto, tão perto... mas agora é tarde.
sábado, 5 de maio de 2007
O teu adeus
Se fechar os olhos, ainda consigo sentir o calor da tua pele, a textura do teu cabelo, o teu cheiro. E ainda consigo sentir o sabor das tuas lágrimas quando te beijei e dissemos adeus.
Nunca pensei que fosse possível encontrar alguém tão como eu quanto tu consegues ser; alguém que sabe exactamente aquilo que quero dizer e não digo, que adivinha aquelas palavras que me morrem entre o coração e a boca; alguém capaz de caminhar a meu lado, com os olhos postos no mesmo horizonte; alguém capaz de me compreender, completamente; alguém que me enche o coração de calor, apenas com a voz.
Não tem um nome aquilo que és na minha vida, não precisa de ter e não faria sentido se tivesse. É suficiente para mim a forma como me olhas, não preciso de ter mais certeza nenhuma para além da que me das quando estas presente. Sim, encho-me de dúvidas quando não estas e não sei se amar-te aos bocadinhos é suficiente, mas vivi o hoje podendo amar-te e sei que disso não me arrependo. Não sei quando chegará o amanhã em que vou poder voltar a fazê-lo, se é que vai chegar, porque tudo é incerto (são cada vez menos as certezas, e de que servem elas se um dia chegarei à conclusão de que estava errada?), mas foi bom escapar de tudo o resto, contigo, hoje.
Um adeus significa que um dia se esteve perto e é isso que interessa, é isso que fica na memória para reviver vezes sem conta.
quarta-feira, 2 de maio de 2007
O fim
É quando as coisas partem que sentimos a sua falta. A ideia do "nunca mais" assola-nos a alma e vêm-nos à memória todos os momentos que deixamos passar em que não dissemos ou fizemos o que queríamos ter dito ou feito e apercebemo-nos que se tornou tarde demais. Os maus momentos apagam-se, como se nunca tivessem existido (porque quando as coisas chegam ao fim nunca nos lembramos do que tinham de mau), e invadem-nos o espírito aqueles em que fomos felizes e aos quais não soubemos dar o devido valor na devida altura.
Porquê, perguntamo-nos, porquê? Porque nada é eterno, porque tudo há-de chegar ao fim. E o fim, chegue ele como chegar, há-de ser sempre doloroso e imprevisível.
O mundo acaba, desistimos, morremos por dentro. E, depois da chuva passar, renascemos. Das cinzas nasce um novo mundo, construído à luz dos erros que cometemos no outro; um novo mundo que também há-de chegar ao fim para dar lugar a outro, por necessidade de mudança.
É quando acaba a água que temos sede, é quando não chove que nos apercebemos da falta que a chuva nos faz e foi só quando partiste que compreendi o quanto ainda precisava de ti.
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