
Já não acredito em ti. Já nem sequer acredito na tua existência. Se alguma vez exististe foi dentro de mim, enquanto objecto da minha criação. A pessoa para quem olho agora não és tu. És tu para ti e para os outros. Para mim não. Mas a culpa é minha. Menti-me e enganei-me e ceguei-me, tudo por vontade própria, porque era mais fácil assim. Afinal, para quê abrir os olhos e viver a preto e branco se os posso fechar e viver em colorido? É certo que de olhos fechados vou tropeçando pelo caminho, mas para quem tem essência de sonhador é assim mesmo. E é melhor assim. Os sonhos, esses ninguém os pode levar. Já o resto... a pouco e pouco levaste tudo, não ficou quase nada. Deixaste apenas o último sopro do sonho daquilo que foi. Porque foi isso mesmo que foi, um sonho. Agora acordo devagar, quero lembrar-me do que sonhei e não sou capaz. Vêm-me rasgos de momentos à memória. Momentos que vivi a sonhar.