segunda-feira, 21 de maio de 2012

Insónia

É de noite. É de noite e aqui reina o silêncio, neste espaço cheio de nada. Só aqui estou eu e o cão, que dorme aos meus pés, alheio a esta noite silenciosa. Não é que seja uma noite diferente das outras, eu é que estou diferente esta noite.
Não quero ir dormir. De repente, dormir parece-me um desperdício de tempo, quando a vida é tão curta, quando já perdi tanto tempo porque pensava que havia mais e quando dei por mim o tempo tinha passado e eu aprendi que o tempo não volta atrás. É essa a mais dura das realidades. O tempo que passou, passou e levou consigo a minha infância, a minha inocência, a minha vontade de navegar o inavegável. O maldito tempo levou consigo momentos preciosos, pessoas que amei (que amo, aliás) e, por cada uma delas, levou um pedaço de mim.
Porque é que não se ouve o meu grito silencioso?
Amaldiçoo o silêncio, desprezo a noite, rogo pragas ao tempo. No entanto, tudo permanece igual: a noite silenciosa e o tempo a escapar-se-me por entre os dedos. E quase que podia jurar que, enquanto corre à minha frente, fugindo de mim, me deita a língua de fora, gozando comigo.
Será que algum dia faremos as pazes, eu e o tempo? Talvez precise de parar de o perseguir e, quando o fizer, talvez ele ande lado a lado comigo e eu aprenda que, seja lá como for, o tempo vai passar. A forma como passa depende da perspectiva. 

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