terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Outra vida

Outro dia fui mexer num caderno antigo e dei com estes textos que escrevi noutro tempo, noutra vida. Agora já não têm significado, tiveram um dia, para outra pessoa, para alguém que fui e tive de deixar de ser. Mesmo assim, continuam a ser bonitos e hão-de ter algum significado para alguém, espero eu. Por isso, ficam aqui os dois de que mais gosto, de entre os pedaços de memórias que encontrei.
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Lembro-me do teu ar de criança reguila quando disseste aquilo, como quem pede aos pais algo que não sabe se deve pedir. Senti-me tão frustrada! Mas só me conseguia rir, rir e gostar de ti um pouco mais. E sempre foi assim, desde o início. Cativou-me o teu sorriso e o teu olhar de menino, a tua voz meiga, todas as parvoíces que me fizeram rir em passeios perdidos em tardes quentes e em telefonemas depois da meia noite. Não sei explicar porquê, mas há algo em ti que me cativa, que me prende, que me faz ficar, mesmo quando penso em ir embora. Pertenço-te desde que me deixaste ver a superfície do teu ser. Pertencer-te-ei até chegar a altura de te deixar partir, porque as maravilhas do mundo não são de ninguém.
13/10/2008

Não temos menos um do outro do que tínhamos antes. Não temos é mais, e eu acho que mereço mais. Quero dizer-te isto, mas sempre que estás aqui só consigo pensar em ter-te. É quando vais embora que tudo volta, as dúvidas, as inseguranças, as coisas que as pessoas me dizem, que todas as pessoas me dizem, e que eu sinto. Mas tu chegas e é tão bom... Chegas e fico embriagada pela tua presença. Quero dizer-te, quero que saibas o quanto isto me dói, mas o teu riso de cascata a cair no rio, os teus olhos, estrelas azuis, fazem-me esquecer a dor e eu não digo nada, amor, não consigo dizer nada. Só te quero ter aqui, volta para mim, tira-me a dor.
24/10/2008

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Há dias assim

Hoje sinto um vazio na alma, um tipo de tristeza que se apodera de mim às vezes e que normalmente antecede uma mudança. Mudança na minha maneira de ver o mundo. Procuro pelo vazio, tento descobrir onde dói, procuro pela ferida e não encontro. Descubro que o vazio toma conta de mim, que dói em todo o lado, que toda a carne do meu corpo está dilacerada. E não há nada que eu possa fazer. Não há nada que eu possa fazer, está fora do meu controlo. Apenas sei que há dias assim, dias escuros, dias em que só quero esconder-me, enfiar-me debaixo dos lençóis e deixar que o mundo se esqueça de mim, esquecer-me eu de mim. Mas também há dias bons, claros, lindos, dias em que me apetece sorrir, dias em que quero viver. Por isso agora vou dormir, deixar que a noite me venha lamber as feridas e esperar que amanhã não doa tanto, esperar que amanhã consiga respirar, esperar que amanhã a nuvem negra que paira por cima da minha cabeça já tenha desparecido.
Tenho saudades tuas todos os dias e já me devia ter habituado, já passou tanto tempo... Mas há dias em que não aguento. Há dias assim.

sábado, 31 de outubro de 2009

Eventualmente todas as pessoas de quem gostamos saem da nossa vida, de uma maneira ou de outra. Nada dura para sempre, é o que dizem. Gosto de acreditar que algumas pessoas ficam, que alguns amigos são para toda a vida e que existe uma pessoa para cada um de nós que nos amará sempre, que é "a tal". Quero acreditar nisto, mas os factos e a experiência (a pouca que tenho) apontam para o contrário. Portanto, por muito que queira acreditar que algumas coisas são eternas, tenho de me conformar com a ideia de que nada é para sempre, o que me leva ao início, ao que realmente queria dizer.
O que realmente queria dizer é que gosto muito de ti. És, ou pelo menos gosto de pensar que és, o meu melhor amigo. Consegues ver-me como mais ninguém vê, conheces-me, sabes o que sinto mesmo quando tento escondê-lo. Quero dizer-te isto para que quando partires, porque vais fazê-lo eventualmente, saibas a diferença que fizeste na minha vida e o quanto gosto de ti.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Não foi tempo perdido. Não é tempo perdido.

"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena."

Tempo perdido é não tentar, é desistir. A partir do momento em que tentamos, que vamos à luta, ganhamos sempre alguma coisa. Mesmo quando parece que perdemos, que sofremos uma derrota devastadora, ganhámos pelo menos uma lição. É a viver que aprendemos. Não arriscar é não viver e eu quero viver. Quero viver mais noites mágicas, mais passeios de mão dada, mais borboletas no estômago. Quero viver mais gargalhadas sentidas, mais silêncios confortáveis, mais sorrisos cúmplices. Quero viver mais viagens de eléctrico, de comboio, de carro e, sim, talvez até de barco.
Não me arrependo de todas as vezes que corri atrás, caí e esfolei os joelhos, não me arrependo dos momentos em que mergulhei de cabeça e bati com ela no chão. Não me arrependo de ter tentado, vivi. E vou viver muito mais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009


Hoje chove imenso. Não me importa muito. Apetece-me sair e molhar-me. Apetece-me ir até à praia, sentar-me na areia molhada, estar comigo e com o mundo, fazer as pazes com as coisas, deixar partir os fantasmas de tudo o que já foi e encontrar o presente, o hoje, o agora, nesta chuva revigorante. Olhar para o mar, para o horizonte e ver as possibilidades, os sonhos que entretanto esqueci e fazer de hoje o primeiro dia do resto da minha vida. Apetece-me sentir o prazer de estar viva, saber a dádiva que é cada dia que me resta viver. Hoje apetece-me ser feliz.