
Sou pequenina (dizem que nunca fui pequenina, que sempre fui grande para a idade, mas sou pequenina) e tenho de esticar o bracinho para agarrar o dedo do meu avô e de mexer depressa as minhas perninhas curtas (curtas ao pé das dele, porque dizem que sempre as tive compridas) para acompanhar os seus passos largos. Com a sua paciência interminável de avô, leva-me, como faz todos os dias, ao parque infantil para me empurrar o baloiço durante tanto tempo quanto a minha inconsciênca de criança quiser. Inconsciência porque não percebo que lhe doem os joelhos e as costas por estar em pé e o braço por me empurrar. Sou criança e sou egoísta e digo-lhe "Mais, avô! Mais!", e apesar das dores ele continua, porque ao fim do dia vou sentar-me no seu colo, pôr-lhe os braços à volta do pescoço e dizer "Adoro-te avô." e porque no dia seguinte vou fazer na escola um desenho para lhe dar, que ele vai guardar na gaveta onde guarda todas as coisas que lhe dou, desprovidas de qualquer valor material. Mas mesmo que não fizesse nada disso, ele continuaria a empurrar o baloiço, em pé, ao sol, suportaria as dores e o calor porque o seu coração se enchia de alegria a cada gargalhada minha.
A saudade significa que um dia estivemos perto, e a felicidade também se encontra em memórias, que podemos reviver vezes sem conta, recordando ou inventando um novo detalhe de cada vez que um desses momentos perdidos algures no tempo nos vêm à memória e nos preenchem o coração.