
Fecho os olhos e quero com muita força (como se diz às crianças para fazer) que o tempo páre, que volte para trás, que me dê para sempre uma daquelas noites de Natal cheias de pessoas, alturas em que tinha tudo.
Mas o tempo não para, não volta atrás. Segundo dizem, a vida continua. Tenho a nítida sensação de que a minha parou. Saí do comboio e sentei-me na estação a ver a vida passar, à espera do comboio certo. Em vez de apanhar um comboio, sonho, enquanto ele passa, com as coisas que encontraria lá dentro, com o destino que queria que ele tivesse ... e o comboio passa e eu continuo sentada na estação, atenta à voz que anuncia a chegada do próximo comboio e o seu destino, para o sonhar enquanto ele não vem e, depois, enquanto ele passa, sem nunca entrar nele.
Uso como desculpa a ignorância, o medo, para a minha impassividade, para a minha inércia. Mas é mentira, eu não sou ignorante, nem tenho medo. A verdade é que não sei porque não me consigo levantar e apanhar de novo o comboio.